segunda-feira, 8 de junho de 2009

D. Afonso Henriques

Quando tudo aconteceu…

1109:Provável ano de nascimento, em Coimbra, do infante AFONSO Henriques, filho do conde Henrique e de dona Teresa, bastarda do rei Afonso VI de CASTELA e Leão.1122:Afonso Henriques ignorando o cardeal que presidia a cerimónia, arma-se cavaleiro na catedral de Zamora.1128:Afonso Henriques luta contra a mãe, dona Teresa no campo de São Mamede, junto ao castelo de Guimarães. O exército galego é derrotado.1129:No dia 6 de Abril. Afonso Henriques dita uma carta onde se proclama soberano das cidades portuguesas.1135:Afonso VII filho de dona Urraca, é coroado “imperador de toda a Espanha”, Afonso Henriques se recusa a prestar vassalagem ao primo.1137:Paz de Tui. Após lutar com Afonso VII no Alto Minho, Afonso Henriques promete ao imperador “fidelidade, segurança e auxilio contra os inimigos”. 1139:Batalha de Ourique. Afonso Henriques vence cinco reis mouros.1140:Afonso Henriques começa a usar o título de Rei.1143:Provável tratado de Zamora no qual estabelece a paz com o primo Afonso VII. Primeiro passo para a independência Portuguesa. Afonso Henriques escreve ao Papa Inocêncio II e se declara – e a todos os descendentes – “censual” da Igreja de Roma. A palavra “censual” significa que Afonso Henriques é obrigado a prestar obediência apenas ao Papa. Na região que governa, portanto, nenhum poder é maior que o dele.1147:Afonso Henrique expulsa os mouros de Lisboa e várias outras cidades portuguesas.1169:Afonso Henriques é feito prisioneiro do rei de Leão, Fernando II.1179:A Igreja Católica reconhece formalmente, a realeza de Afonso Henriques.1180:Final dos conflitos com Fernando II.1185:Afonso Henriques morre na cidade em que nasceu.

Graças à esperteza política de Afonso Henriques, Portugal é a primeira nação europeia a se estabelecer como Estado independente. Antes do ano 1200, Portugal já é Portugal.Com direito, inclusive, a língua própria: o galaico-português.
Génio, estadista, raposa política, vitorioso, implacável, espertíssimo: Afonso Henriques constrói uma história rocambolesca. Tudo o que pode manipular a seu favor, manipula sem escrúpulos. Inicia a trajectória de vitórias fundando um reino.
O avô de Afonso Henriques destaca-se como um dos homens mais poderosos de sua época. Afonso VI consegue casar sua filha ilegítima com um dos condes de Borgonha – família finíssima, não é assim, toda hora, que um Borgonha se mistura á gente dita mal nascida. Afonso VI determina que o novo e único condado pertencerá á Teresa e ao marido dela, claro. Urraca, a filha legítima, sentará no trono de Leão e Castela, como ensinam as regras da moral e dos bons costumes. Afonso Henriques tem 20 anos quando o avô morre.
Aos 13 anos, na cerimónia em que o sagram cavaleiro, na catedral de Zamora, Afonso Henriques passa por cima do bispo e ele mesmo sagra-se. A mãe tenta anexar Portugal á Galícia, é desconhecer o filho que tem. Com 21 anos, Afonso Henriques cerca Guimarães e declara uma briga: quem está de fora, não entra; quem está dentro, não sai; quer poder, seu lugar é no condado materno. Afonso Henriques já andava observando que, além de se libertar de Castela, as cidades de Portucal identificam-se cultural e ideologicamente. Para ele, não parece tarefa difícil transforma-las em uma só força. Ele age na hora certa, com as pessoas certas, da maneira certa. Os habitantes de Guimarães, liderados pela nobreza e pela burguesia, recebem o infante de braços abertos. Após ter derrotado a mãe na batalha de São Mamede, declara : “Eu, o infante Afonso, filho do conde Henrique, livre já de toda a opressão, …, na posse pacífica de Coimbra e todas as cidades de Portugal…”.Combate e vence. Quando não vence pela força, moedas de ouro resolvem a situação. Os inimigos principais são mouros, mas os primos Afonso VII e Fernando II, ambos de Castela também lhe dão que fazer. Este último, prenderá Afonso Henriques em Badajoz e se espantará com a riqueza do rei português. De resgate, Afonso Henriques pagará quase 2 toneladas e meia de ouro. Passa a vida combatendo e fazendo acordos políticos. Logo após a vitória de São Mamede, Afonso estabelece as suas relações com a Igreja: cede em tudo. Sabe onde pisa, os clérigos têm força demais para serem contrariados.
Em troca do apoio amplo, geral e irrestrito, o arcebispo de Braga recebe a garantia dos seus privilégios. Em textos da época monges do Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, não economizam elogios a Afonso Henriques:”prudente, sábio, inteligente, belo, gigante, leão rugidor”. Depois da batalha de Ourique, então, os frades passam a delirar. Na opinião deles, Afonso Henriques é o “eleito de Deus para provar a autonomia de Portugal e dos portugueses”.
Em 1135, Afonso VII o filho de Urraca sobe ao trono. Da família, só Afonso Henriques não comparece, com a intenção clara de mostrar que o Condado Portucalense não presta vassalagem ao soberano de Leão e Castela e que Afonso Henrique considera-se tão Rei como o primo. Em 1137 assinam a Paz de Tui, onde Afonso submeta-se a certas exigências do primo. Mas acaba por não respeitar o compromisso. Inocêncio II precisa de enviar um cardeal para apaziguar os primos. Porém, antes, acontece o milagre de Ourique, para alguns ou artimanha de Afonso Henriques para outros. Permanece no brasão do país - cinco escudos, cinco quinas, cada qual com cinco bolas representando os cinco reis mouros vencidos na batalha – e, finalmente, transforma Afonso Henriques em rei de facto e de direito. Batalha vencida, povo em delírio, igreja desvanecida. O infante passa a se assinar “rei dos portugueses.
Em 1143 Afonso Henriques joga outra cartada genial. Alegando a batalha de Ourique, escreve a Inocêncio II, reclamando para si e seus descendentes apenas, o status de “censual”. O seja, dependente apenas de Roma. Dentro de seu território manda ele e só ele.
Quando em 1179, a Igreja de Roma, finamente, reconhece a realeza de Afonso Henriques, o reconhecimento já não tem importância. A independência se consumara, Portugal afirmara sua soberania e o infante encerrava a vida como rei de primeira grandeza.
Em Zamora Afonso VII, entende que o infante jamais lhe prestará vassalagem. Por conta própria começa a trata-lo de igual para igual.
Afonso Henriques combate lado a lado com os seus soldados, comportando-se como igual, sem hierarquia. Sua tropa mais que o respeito: venera-o. Obedece a qualquer ordem.
Como desculpa de empurrar infiéis de volta aos locais de origem, Afonso Henriques amplia o território português: Lisboa, Santarém, Almada, Óbidos. Palmela, Sesimbra. Combate após combate, destruindo mouros.
Ele antecede o seu tempo, revela-se um génio de extraordinária visão política e indiscutível coragem moral. Os relatos da época demonstram um perfil justo, generoso e irreverente. Retratam um carácter corajoso, sujeito a crises de cólera, capaz de actos de violência e de reconhecer os seus erros. Realçam a sua tendência conquistadora. Casado com a discreta Mafalda de Sabóia – com quem teve sete filhos, entre eles, o herdeiro Sancho -, Afonso Henriques abençoa quatro bastardos. Ao herdeiro, Sancho I, Afonso Henriques deixa a única recomendação geopolítica: a construção de uma ponte entre o norte e o sul do país para não se perder a unificação que lhe custara fazer e manter.
Afonso Henriques, o pai da pátria portuguesa, morre no dia 6 de Dezembro de 1185, em Coimbra, mesma cidade onde nasceu. Seu corpo é enterrado no Mosteiro de Santa Cruz.



Luana Fernandes Cunha, 21 de Janeiro de 2009.

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